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domingo, 14 de abril de 2013

Arthur Rimbaud: "L'Éternité"

 
 
Arthur Rimbaud: "L'Éternité" / "A Eernidade": trad. Ivo Barroso

A Eternidade

Achada, é verdade?
Quem? A Eternidade.
É o mar que se evade
Com o sol à tarde.

Alma sentinela
Murmura teu rogo
De noite tão nula
E um dia de fogo.

A humanos sufrágios,
E impulsos comuns
Que então te avantajesE voes segundo...

Pois que apenas delas,
Brasas de cetim,
O Dever se exala
Sem dizer-se: enfim.

Nada de esperança,
E nenhum oriétur.
Ciência em paciência,
Só o suplício é certo.

Achada, é verdade?
Quem? A Eternidade.
É o mar que se evade
Com o sol à tarde.

L'Éternité

Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

Ame sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.

Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.

Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise : enfin.

Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.

Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

RIMBAUD, Arthur. Poesia completa. Edição bilingue. Trad. Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Sobre a serventia da literatura


Ontem teria seria um dia tão normal quanto os outros se não fosse por uma pergunta feita a mim.
Pela manhã, fui ao dentista, rotina minha desde sempre e enquanto ele realizava os procedimentos me perguntou: “Para que você estuda literatura?”.
É engraçado, dentistas sempre querem que você fale enquanto mexem em sua boca e o pior é que você sempre tenta falar!
Ele continuou:
- Eu gosto de literatura, mas não entendo muito não. Que tal largar a literatura e vir para a odontologia? Seria bom. O que me diz?
Eu tive que tirar aquele sugador infernal da boca e rir. Ah se eu fizesse odontologia...
Meu odiado e querido dentista estava terrivelmente perverso a esta altura eu esperava tudo dele.
Para quê literatura? Para quê poesia? Estamos acostumados a sempre atribuir sentidos que de certa forma geram um valor para as coisas que queremos fazer. É comum pensar: se fulano é médico vai curar, se é arquiteto vai construir, se é advogado vai obter respeito e etc. Bem, isso é uma minimização das profissões mas azemos muito isso. O fato é que quando se chega à literatura, é super comum que a maioria das pessoas teimem em querer que ela não sirva de nada, assim como a poesia. Então se eu fosse problematizar escolheria falar do nada e de suas faces. E aí, fico pensando: que diabo de pergunta! Eu poderia responder simplesmente:
-Estudo literatura porque gosto.
Ele entenderia e o assunto estaria morto e enterrado.
Acontece que não posso responder dessa maneira, nem ao meu dentista, nem a ninguém que me pergunte isso, de certa forma estou convivendo tão densamente com este mundo que a resposta, “porque gosto” causaria certo desconforto a mim. Aqui uma confissão: muitas vezes me fiz tal pergunta. Acho que inconscientemente eu buscava uma razão para minha escolha, uma serventia e demorei muito até perceber que a literatura é uma explosão, uma força, uma tensão que nos impulsiona. Que mexe conosco, mexe com tudo por dentro e por fora. A literatura é intensidade, ela é movimento, é vida.
A literatura é uma possibilidade de caminhada, aviso, tem que ter coragem para este caminho. Um caminho trabalhoso e até pedregoso, que nos impõe seus desejos. Fazer literatura de certa forma é permitir que seja intensificada a vida, a vida colocada como possibilidade do real. Através dela outros corpos surgem, são construídos para que a arte apareça. Ela é força geradora. A literatura nos faz sentir as intensidades, os impactos, os transtornos, as amplificações de sentido. Quando nos jogamos descobrimos a afetação que podemos sofrer com um texto literário. Ainda me lembro do grande impacto que sofri quando li a ‘Terceira margem do rio’ de Guimarães Rosa. Fiquei imóvel diante da beleza desse texto, não sabia o que pensar, precisei reler, escavar entre seus espaços e preenchimentos. O bom de se fazer literatura é sempre está a disposição da surpresa e do inesperado.
Tenho um amigo que diz: “literatura é vertigem”. É, na vertigem que damos lugar aos outros nomes, aos outros corpos. É na vertigem que podemos perceber o que está implícito. É na vertigem que a literatura se mostra como intensiva, intempestiva e progressiva. Ela tem a ver com a minha vida, com a sua vida, com todas as vidas.
Eu disse isso ao meu dentista, depois que me livrei do sugador e das agulhadas, ele meio que pasmo, retirou a máscara e falou:
- Não venha para a odontologia não, seria um erro. Na próxima consulta me traga um livro, ou me sugira algo que possa me sacudir. Acho que eu preciso ler mais, não tenho experimentado a vida ultimamente.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Antonio Cicero


 entrevista de Antonio Cicero um de meus poetas preferidos.

http://revistacult.uol.com.br/home/2013/03/a-lira-de-antonio-cicero/

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vivendo


Pensando, além
Ficar fora, ficar ex.
Até poder negar tudo, abstrair.
No sentido habitual, Penso: existentia.
Penso, logo sou,
agora igual ao Ser.
in: No limite do verso

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um trecho do Fausto de Goethe

 Um lindo trecho, perfeitamente propício para pensarmos sobre a Modernidade.
" Entendemo-nos bem. Não ponho eu mira
na posse do que o mundo alcunha gozos.
O que preciso e quero é atordoar-me.
Quero a embriaguêz de incomportáveis dores,
a volúpia do ódio, o arroubamento das sumas aflições. Estou curado
das sedes do saber..; de ora em diante
as dores todas encaro est' alma
As sensações da espécie humana em peso,
quero-as eu dentro de mim; seus bens, seus males
mais atrozes, mais íntimos, se entranhem
aqui onde à vontade a mente minha
os abrace, os tateie; assim me torno
eu próprio a humanidade, e se ela ao cabo
perdida for, me perderei com ela." (1765-75) Fausto, quadro V, Cena I

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Uma entrevista importante



Gente, essa entrevista é muito elucidadtiva para quem gosta de ler ou mesmo deseja se aventurar nestas águas. Nela Schiffrin fala sobre mercado editorial, literatura, processo de criação entre outras coisas. Espero que gostem.
Abraços